segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Clarice por Clarice

     
 “Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
       Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

 “Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
       O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
       [...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”

Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.
http://www.claricelispector.com.br/Default.aspx

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Princesa Diana


O que minhas duas admiráveis princesas tem em comum? Beleza (modesta..rs), a intensidade em viver a vida, a paixão por tudo e todos, a polêmica de entrar em confusões e conflitos, a facilidade de tomar decisões importantes sem dar a mínima para o que a sociedade machista iria pensar e claro, o DIVÓRCIO. Elas são princesas divorciadas. Estranho para uma plebéia que poderia suportar as traições do marido. Estranho para uma jovem de 26 anos que poderia levar um casamento medíocre e de fachada. Estranho, diferente, conflituoso, recheado de julgamentos, questões não explicadas e traumas que só quem passa por uma situação como essa pode entender. A história da minha amiga Diana começou no dia 24 de maio de 2010 (leiam o post dessa data). A partir dali tudo mudou em sua vida. Na minha vida. Na vida dos seus familiares, amigos, colegas de trabalho e até de desconhecidos, que ouviam seus relatos sem entender absolutamente nada. O divórcio cresceu no Brasil mais de 100% em relação ao ano passado. Nos Estados Unidos, diariamente, quatro casais se separam. Ufa, diz Diana. Não sou a única, completa. E não é mesmo. Eu e minha princesa saímos lendo, fazendo buscas na internet, horas de terapia a fim de entender o que leva um casal ao divórcio. Onde foi parar as juras de amor eterno? Planos? Onde está aquele ser, aquele mesmo, pra quem você disse SIM quando foi pedida em casamento. Pois é, nada de respostas. Apenas dúvidas e mais dúvidas... Há algum tempo, eu e Diana encontramos um blog na internet com histórias de mulheres, dos mais diferentes tipos, relatos, dúvidas e indagações sobre o casamento. Algumas mulheres pediam conselhos. Não sabiam como agir. Outras já haviam terminado a relação. Outras descobriram que o parceiro tinha outra opção sexual. Outras foram traídas. E outras, tantas outras, não tinham certeza de nada. Mulheres que apenas compreendiam que seus ex-maridos não eram mais os homens que elas amavam, que a convivência não era mais saudável e que não existia mais amor. A ordem podem mudar mas o resultado final é o mesmo. Cada depoimento que Diana lia, eram algumas lágrimas que escorriam de seu rosto quadrado. Cada frase tocava sua alma. Era como se todas aquelas mulheres entendessem cada dia e noite que Diana passou tentando entender o que não é preciso ser entendido. "Quando paramos para ouvir o problema alheio, percebemos que o nosso é apenas um grão de areia perdido nas areias do tempo." Não posso divulgar o blog por questões pessoais mas "A Esposa" diz que as pessoas quando perdem algo importante passam por algumas fases: NEGAÇÃO "Você quer negar o que é óbvio. Isso não está acontecendo comigo."; RAIVA "Você culpa tudo e todos. Por que as pessoas permitiram que eu me casasse com ele?; TROCA "Você quer se divertir, sair com várias pessoas (não no meu caso porque encontrei um namorado rápido e que ironia, na minha festa do divórcio - SIM, Diana fez uma festa de divórcio); TRISTEZA "Medo de não ser mais feliz. De não encontrar outro amor. De que nada vai dar certo.";  ACEITAÇÃO (é a que estou entrando) " Você entende que a culpa do casamento estar "estranho" não era apenas sua, assume sua parcela de 50% e sente um alívio. Você tem certeza de que nasceu para ser feliz e que ao lado do seu ex-marido isso seria impossível." Resumo da ópera? Diana não é a primeira nem a última mulher a passar por esse trauma. Ela não fez a escolha errada. Fez o que tinha que fazer. Viveu o que tinha que viver. A história teve começo, meio e fim. Minha princesa foi escolhida a dedo. Transformar o rancor em perdão é muito difícil mas ela conseguiu. O rumo de sua vida, seu novo castelo está além do que ela imaginava. Seus sonhos estão em suas mãos e ela pode tocá-los. Agradeço por meu casamento ter chegado ao fim. Agradeço por ser divorciada, ela diz aliviada. Um novo caminho se abriu para minha princesa. Aviso aos navegantes: Diana está escrevendo um livro com histórias reais de jovens divorciadas. Esperamos o mais breve possível concluí-lo. Portanto, aos curiosos de plantão: sem mais perguntas, ok? PS: Para a turma VIP o acesso é sempre liberado! Damos um longo, querido e verdadeiro abraço e nos despedimos. Agora, Diana sabe que amanhã é outro dia...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A resposta sempre vem

Andamos sumidas, eu e Diana. Estávamos percorrendo caminhos diferentes. Direita e esquerda. Gelado e quente. Bem e mal. Cada uma no seu mundinho alternativo e seguro. Nem sempre estamos juntas. Mas isso é uma outra história... Diana esteve ocupada nas últimas semanas com sua amiga Mel. Vamos comigo levá-la ao aeroporto? Disse a princesa. Respondo que sim, claro. Diana se despede de Mel e vejo em seus olhos uma expressão de liberdade. Um saco pesado saiu de suas costas. Mel se despede e eu não pergunto a Diana pra onde Mel vai. Não me interessa. Diana sorrí. Ela foi embora e não sei se um dia voltará. Fato, é que terei que conviver com ela para o resto da vida, diz Diana. Já que precisa conviver faça dessa convivência a melhor possível, digo. Alguns sentimentos, situações, pessoas, terão que fazer parte de nossa história. Existem coisas que estão fora de nosso alcance. Acho que podemos chamar Mel de furacão. Aprendi a lidar com ela, ufa! Comemora a princesa. O mundo novo de Diana é bem diferente dos outros em que ela viveu. A família de Gansos foi conhecer o novo castelo. A princesa ficou feliz. Sentiu-se amada, querida. O colo quentinho dos gansos fez com que os sonhos conturbados de Diana fossem mais coloridos. Era a força que eu precisava, ela diz. Nada mais importava e Diana desejava que o tempo parasse... Volta a fita, falo. Voltemos para o mundo real, completo. A princesa passou dias felizes mas, como em todo bando de gansos, o casal precisava seguir seu caminho... "Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível", diz Diana. Fato. Diana tem aumentado seu vocabulário porque em seu novo mundo existem expressões que ela não conhecia : "Machorra = Sapatão; "Cacetinho" = Pão francês; "Negrinho" = Brigadeiro; "Patente" = Vaso sanitário; "Janta" = Jantar, entre outras dezenas de palavras bem engraçadas. Damos risada. Diana é aventureira por natureza e conhecer um novo mundo lhe dá prazer e sede para cair e levantar, cair e levantar, cair de novo e não cansar jamais. Um mundo novo não é perfeito, óbvio. Nada é perfeito nessa vida, ela diz. O "Amor Supremo" tem colocado pessoas queridas no meu caminho. Aos poucos, sou aceita e aos poucos posso demonstrar como sou de verdade, enfatiza Diana. Hum, lembrei de algo ruim...ela diz com cara de desapontada. Em uma árvore tomada de lindas maças, pode apostar, vai ter uma maça podre. A princesa descreve uma pessoa que ela nunca viu igual. Dura como uma pedra. Grosseira. Bipolar e burra, diz ela. Pergunto por que burra? Diana responde que só uma pessoas burra consegue afastar os outros de si mesma. Geralmente nós erramos e aprendemos com os erros. Essa pessoa não. É insuportavelmente repudiada pela maioria. Mais um desafio para a nobre princesa. Nada passa despercebido por mim, de alguma forma, um dia, algo de bom colocarei no coração desse ser, completa. Diana comenta sobre uma notícia que leu sobre uma barata encontrada dentro de um refrigerante e aproveita para dizer: não tenho sangue de barata! E eu não sei? Respondo. Infelizmente, minha "pequena insuportável" Diana ainda guarda sentimentos ruins em seu coração. Sempre digo que não tocarei mais nesse assunto mas se eu não falar explodo, ela diz. Também concordo. Diana precisa falar, entender, aceitar e perdoar o acidente no percurso de sua incrível jornada. Não adianta eu falar, amigos falarem, terapeuta, o Papa. Ela carrega uma tristeza e decepção que só o tempo vai curar. Sinto como se minha vida estivesse sendo tomada por outra pessoa. Saí, deixei tudo como estava e aos poucos todos esqueceram....diz minha princesa. Dia após dia, seu lugar, sua casa, seus amigos, os lugares que costumava ir, toda a sua rotina é tomada por um alguém que Diana acha que não merecia estar ali. É bom isso acontecer, respondo. Só assim você vai deixar de ser bobona e parar de confiar em todo mundo!!! Só assim você irá entender que precisa se preservar. Só assim você colocará na mente que nem todo mundo é bacana e que nem todos estarão ao seu lado! Digo olhando dentro dos olhos de Diana. Ela me olha com vergonha. O certo pra você pode ser o errado para o outro. E  contrário também. E isso vale para tudo. Não é você que define se alguém é merecedor de algo. Tenha a certeza que "lá em cima" o momento de acertar as contas vai chegar...  E assim, vivendo, você aprende que todos os problemas tem solução. Diana me dá um beijinho na testa e sai apressada. Ela sabe que amanhã sempre será outro dia...