terça-feira, 29 de novembro de 2011

Imensidão de quartos


Diana e eu sentamos na beira do rio. Faz muito calor e nossos pezinhos estão balançando na água. Boas lembranças da minha infância, diz Diana. A água tem um significado importante pra mim, ela completa. Para nós, finalizo. Quem nasce perto do mar aprende desde sempre a respeitá-lo, a venerá-lo e desejá-lo. É quase como um elo.Um elo que revigora, limpa a alma e nos leva ao encontro do nosso eu. Diana sente saudade do mar. Enquanto filosofamos sobre a vida uma velha conhecida de Diana se aproxima. Mel. Não conheço direito a Mel. Sei que ela surge de vez em quando no caminho da minha princesa. Para não atrapalhar a conversa entre as duas, me distancio um pouco mas não o bastante para não ouvir a conversa. Pela expressão de Diana logo entendo que Mel tem problemas e que sofre, muito. Tiro meu livro da bolsa para fingir atenção na leitura mas permaneço com o ouvido ligado. Diana, perdoe-me por aparecer sem avisar, assim de repente. Sei que te atrapalho sem mesmo querer e sei que não faço nada bem à você. Diana, abraça Mel e a deixa à vontade. Você precisa desabafar, estou aqui, diz Diana. Mel, em um momento de desespero cai em um profundo choro.As duas se abraçam. Mel não quer fazer mal à Diana mas faz. Diana sabe também que não pode ignorá-la, precisa conviver e ajudar Mel. Diana suspira e se mostra receptiva para ouvir Mel.... Sabe Diana, sou uma casa gigantesca, com muitos quartos, de todos os tamanhos e cores. Sou todos esses quartos sozinhos, sem mobilia, sem barulho. Só eu e eles. Descobri que cada quarto é uma parte de mim. Cada medo, decepção, loucura, desespero abrigam um quarto. Estou trancada nessa casa. Cada momento visito um deles. É triste, é sombrio, é a mais pura solidão. Alguns quartos se eu pudesse, colocaria fogo, queimaria e não deixaria rastros. Outros, me trancaria ali para sempre. O pior de tudo? Não tenho controle dos quartos. Esqueci o caminho para cada um deles. Acordo cada dia em um. Isso me aterroriza. Acordo sozinha, comigo mesma e tudo o que mais desejo era não estar comigo mesma. Como posso não querer ficar comigo mesma? Como posso me odiar? Não saber quem sou, ter quartos tão bagunçados e misturados. Na minha grande casa, que construi já faz quase trinta anos se eu pudesse colocaria abaixo. Passaria com um trator nela. Existem quartos terríveis. Quartos que me fazem ter vontade de desistir de tudo. Quartos que me envergonho. Quartos em que a culpa dos meus erros me atormentam, me perseguem. Diana, ninguém mas ninguém mesmo pode compreender a imensidão da minha dor e da minha solidão. Não sou capaz de abrir a porta para ninguém. E quando abro, certamente o final é desastroso. Todos que se aproximam de mim de alguma forma saem prejudicados, infelizes. Cansei de magoar aqueles que amo. Cansei de acreditar que o bem existe e que no final dará tudo certo. Nos meus quartos só restam tudo aquilo que ninguém quer. Me tornei uma pessoa oca, vazia. Preciso unir forças para abrir as portas certas. Sei que preciso. Mas não tenho forças. É impossível explicar para alguém uma dor que vem da alma. Um vazio sem fim. Uma Mel que não vive, sobrevive. Diana abraça Mel. As duas choram . Sofrem juntas. Diana promete que ficará ao lado de Mel. As duas se despedem, Mel diz que precisa voltar para casa. Ficar fora não faz bem pra ela. Ela acha que está sendo perseguida, que todos apontam para ela, que sua presença incomoda, é indesejável. Diana entende e diz que estará perto sempre que Mel precisar. De um certa maneira, as duas sempre estarão presentes uma na vida da outra. É fato que elas terão que conviver. Tenho certeza que Diana vai ajudar Mel nesse desafio que é árduo mas que tem solução. Mel vai embora e volta sozinha, andando com a cabeça baixa, quase se escondendo das pessoas que passam nas ruas... Volto para perto de Diana e minha princesa chora.Mel afeta o coração de Diana. A presença de Mel não traz coisas boas, no entanto, Diana sabe que precisa conviver e reverter a situação em que Mel está. Eu e Diana estamos cansadas. Mal conseguimos nos despedir. Cada um segue para o seu castelo. Digo à Diana que amanhã será outro dia. Infelizmente Diana fica triste. Mel surgiu em sua vida de novo. Diana fará o possível e o impossível para ajudá-la. Ninguém, mas ninguém mesmo merece sentir o vazio de Mel.... Estou preocupada. A presença de Mel tumultua a vida de Diana. Mas enfim, os problemas estão aí para serem resolvidos e Diana... ah, Diana sabe que nada é impossível....

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Nenhum dia pode ser apagado


Não encontrava Diana há dias. Minha princesa deu uma "sumida" básica. Sinto de longe quando ela precisa de mim. Somos cúmplices. Nos completamos. O que falta em mim tem de sobra nela... e vice-versa. Não me surpreendo quando Diana vem em minha direção correndo com os braços abertos, feito criança mesmo. Eu precisava tanto conversar, diz Diana. Eu bem sei, sou sua ouvinte preferida lembra? Claro que Diana não esquece, nem sei porquê perguntei. Ficamos horas conversando. Diana conta sobre sua nova vida. Seu novo lar. Sua adaptação. Mundos iguais e ao mesmo completamente diferentes, diz Diana. Entender não entendo mas se você diz, sei que é verdade, respondo. Diana diz que três meses é o tempo necessário para que qualquer ser humano se adapte a uma nova realidade. Ela acredita nisso, tem certeza absoluta e torce para que o universo conspire a seu favor. Por trás desse sorriso quadrado existe um balde de lágrimas escondidas, diz Diana. Abraço-a bem forte. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Minha princesa não precisa dizer nada. Uma pessoa capaz de perdoar à todos. Uma pessoa incapaz de perdoar a si própria. É isso que Diana é. O que posso fazer para acalmar a alma daquela que acompanhei nos melhores e piores momentos? Infelizmente, caímos na vida. Levamos tombos, arranhões, todos os dias. Olho em seus olhos e falo a única coisa que me vem a cabeça: VAI PASSAR, EU PROMETO. Quando deixarei de me culpar? Quando aceitarei que errei? Quando não sentirei vergonha do que fiz? Quando conseguirei arrancar da memória momentos que nunca deveriam ter acontecido? Diana me faz todas essas perguntas. Suspiro... e seguro suas mãos... Diana querida, nossos dias, meses e anos não podem ser apagados. Você é iluminada. O perdão vai chegar... logo... quando menos você esperar. Não se culpe. Se nada de ruim tivesse acontecido o seu hoje não seria como é. Diana sorrí. Meu hoje é bem feliz, ela diz. Nada, nadinha acontece por acaso. Você carrega exatamente aquilo que pode carregar. Não faça planos, não espere nada. Viva o hoje. Ouça seu coração. Seja boa com quem é bom e mesmo com quem é ruim, continue sendo boa. Amanhã tudo pode mudar, acredite. Faço qualquer coisa por amor, vou até o final do mundo, desabafa Diana. Eu sei disso, respondo. Justamente porque sei peço que tenha paciência. Você é amor e outra metade também. Seu futuro será lindo. Amanhã sempre será um novo dia. Olho para o lado e Diana está dormindo.... apago sua luminária e beijo sua testa. Sonhe com os anjos minha princesa...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Poucas palavras


Nunca fiquei tanto tempo sem ouvir a voz de Diana. Sou uma mulher de poucas e sábias palavras, ela diz convencida. Faço cara de desentendida porque sei que isso não é verdade. Diana é uma mulher de muitas palavras....ela sabe disso. Estranho ficar sozinha comigo mesma, ouvir apena a minha voz, os meus pensamentos, desabafa Diana. Skype, Messenger, Nextel, redes sociais, nada disso substitui o que minha princesa sente falta. É muito bom recomeçar, reinventar nossa história, mudar o rumo do nosso destino. Ao mesmo tempo sinto como se tivesse colocado meu passado em uma mala e jogado fora, diz minha amiga. Como entendo Diana. Entendo e sinto na alma o que ela sente. Todos nós somos substituíveis na teoria. Mas na prática...hum... doído aceitar. Diana vê seu círculo, sua antiga zona de conforto caminhando de vento em poupa e sente uma pontinha de inveja (branca sempre!). Por instantes, ela deseja estar lá, em vários locais ao mesmo tempo. Recomeçar foi a melhor escolha que fiz na vida, ela comenta. Se existe algo que eu tenha feito de bom foi isso porque o resto... sem comentários, risos, enfatiza a princesa sarcástica como de costume. O que eu acho? Bom, Diana ainda não se perdoou. Sente vergonha das decisões que tomou. Sente raiva dela mesma. Sente tristeza em não ter mais a fantasia, o lúdico dentro de seu coração. Sente nostalgia em não acreditar nas histórias românticas, filmes e livros, onde tudo termina com final feliz. Diana dá risada. Ela sempre dá risada quando não sabe o que dizer. Ela não precisa falar nada. Seus olhos dizem tudo. A vida é como o mar... nunca pára, às vezes está agitado, às vezes calmo... Olho para Diana e vejo que sua cabeça está longe, está em qualquer lugar menos ouvindo minhas palavras... Ela não sabe mas suas feridas um dia vão secar. Seus medos irão embora e ela vai perdoar a si própria. Queria de alguma dar para Diana a CERTEZA que tudo ficará bem. Infelizmente não consigo. Nos despedimos... os dias, meses e anos vão passar.... amanhã será outro dia. Em algum momento Diana vai acordar. Eu sei que vai...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Focando em Diana


Encontro marcado. 9h na mesma praça de sempre. Não entendi porque esse horário, Diana detesta acordar cedo, rs. Caminho devagar e da esquina procuro minha amiga. Vejo uma menina sentada na grama, com uma toalha estendida e um monte de guloseimas. Encontrei Diana. O melhor café da manhã é aquele que tem tudo que amamos comer, diz a princesa. Falamos algumas bobagens, fofocas e comentários tipicamente femininos. Pergunto como Diana está. Vejo uma lagriminha querendo cair dos olhos grandes da minha princesa. Diana não responde, apenas deita no meu colo e pede carinho nos cabelos. Todo o meu velho discurso sobre dificuldades, obstáculos e blablabla não adiantam mais. Cheguei preparada para toda e qualquer situação, achei que estava, diz Diana. Toda a teoria e conselhos que ouvi e absorvi são complicados de colocar em prática, ela completa. Minha princesa, imagino como deve ser sentir-se só mesmo quando há pessoas ao redor. Sentir a hostilidade natural de quem não te conhece, não sabe sua história. Perceber cochichos paralelos e sentir vergonha alheia. Desde criança o Ganso pai me ensinou a nunca cochichar, isso é bizarro! Existem várias formas de fazer comentários alheios sem que o outro perceba, desabafa Diana. Sinto vontade de rir mas me seguro para não chatear minha amiga. Percebo que Diana me aperta forte e escuto um chorinho querendo surgir. Olho bem para o rosto quadrado dela e repito o que ouvi de uma das pessoas mais queridas da minha vida, Célia: FOCO. Não se deixe abalar com fatores externos. Foco em você, no seu futuro, apendizado e crescimento. Resolvi contar uma história para Diana. Um dia, estava eu em um momento crítico e difícil. Sentada em uma mesa de reunião aguardando gerentes de uma multinacional recebo um telefonema da morte de uma pessoa querida. Meus olhos transbordaram em lágrimas, meu corpo ficou gelado. Eu não via, nem ouvia nada. Um filme dos momentos que passei com essa pessoa querida invadiu meu pensamento. Minha grande parceira Célia segurou meu rosto com as duas mãos e disse: FOCO. Essa história não pertence mais à você. Sinta a dor da perda mas concentre-se no que você se propôs a fazer. É uma reunião importante, volte para a realidade e se preocupe com o que é prioridade agora. Era tudo o que eu precisava ouvir. Célia, por diversas vezes precisou ser firme comigo, dizer palavras pesadas e sinceras para que eu prestasse atenção naquilo que realmente importava. Diana entendeu meu recado. Todos os dias, acontecerão coisas boas e ruins que poderão levá-lo ao foco ou simplesmente tirá-lo dele por completo. Não se deixe enganar. Diana sorrí. Quanto mais fraca me sinto mais forte me torno, diz minha princesa. Simmmm, eu grito! Você sempre será uma desconhecida em um novo mundo. Quando este mundo deixar de ser novo, você será vista como realmente é. Uma princesa do bem. Não espere dos outros mais do que eles possam te dar. Espere. Tenha paciência. Para você, o mundo ainda é novo e desconhecido. Continue sendo a Diana de sempre. Aos poucos seu castelo estará erguido.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Barco de amor


O mundo realmente conspira a favor das pessoas do bem. Inacreditável como toda a energia que você emite para o universo volta para você em dobro. Tenho observado Diana esses dias... minha princesa anda em constante estado marítimo, cheia de altos e baixos. Certo que ela daria risada se me ouvisse dizendo isso, risos. Seu castelo está quase pronto e ela insiste em usá-lo como fortaleza. Simples: ela não quer sair de dentro dele. Engraçado, porém estranho. Diana não consegue ficar sem falar, sem ouvir, sem descobrir histórias, sem viver aventuras. Diana perdeu-se dentro de seu próprio castelo. Aprendi a respeitar esses momentos. Entender já é pedir demais né? A princesa Diana com esse seu mundo paralelo torna-se uma caixinha de surpresas. Suas emoções vão do céu ao inferno em segundos. Ela não quer nada. Não quer ouvir. Nada adianta. Ninguém compreende. E eu bem sei que isso é verdade. Diana será uma eterna incompreendida. Ela sabe. Princesas diferentes são assim. Diana diz que as frases e pensamentos criados em sua mente mais do que fértil são absolutamentes distintas e surreais. Diana se esforça. Pensa, pensa, pensa e até quer dividir mas... Seu sábio Ganso vive dizendo que ele não viverá para sempre. Diana é louca por esse Ganso. Complexo de Édipo talvez? Um pouco. Não acho saudável Diana achar que seu Rei é o melhor, é único, só ele poderá protegê-la. Soa infantil essa história. No entanto, a verdade é o que é. Nessa vida, o Rei de Diana já possui uma linda Rainha. Tavez, nas próximas passagens eles se encontrem... Almas que se amam verdadeiramente cruzam-se mundos afora. Diana acredita nisso. Tem plena certeza como 2+2=4. Tenho orgulho dessa menina. Vejo sua vida passar e penso se conseguirei ser igual. Igual não, parecida. O mundo não teria graça se todos fossem iguais. Hoje, Diana chorou. Medo, preocupação, solidão. Ela sabe que seu mundo complexo é pesado demais e se cair o estrago é enorme. Diana não temeu. Ela fechou os olhos e uniu tudo de melhor que existe dentro dela. Os sentimentos, as lembranças. Houve um encontro de almas: Rei, Rainha e do seu bobinho preferido. A união dos quatro foi sublime. Não há problema que não possa ser resolvido. Não há obstáculo que não possa ser superado. Não é preciso acreditar no impossível porque simplesmente nada é impossível. Para aqueles que amam existirá sempre uma mão macia, cheirosa, delicada. Uma mão invisível que toca o coração. Um Amor Supremo que envolve, aquece e acalma aqueles que o procuram... Amanhã será um novo e lindo dia para Diana. Lágrimas escorrem no meu rosto. Lágrimas de felicidade...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O caso do acaso


Diana me entrega uma carta que encontrou ao lado de uma árvore. Propositalmente alguém deixou ali, ela diz. Será anônima? Pergunto eu. Não tem remetente nem destinatário, acho que é um desabafo de uma alma solitária, enfatiza Diana. Às vezes, tudo que alguém precisa é falar. Deve ser triste não ter com quem compartilhar. O que é bom para mim pode ser ruim para o outro. O ser humano não gosta de ser julgado. Mentes inquietas não tem limites, gostam de ser solitárias. Enfim, talvez quem escreveu a carta não pretendia nada específico. Talvez sejam apenas palavras, soltas em uma folha amassada de papel. Diana e eu sentamos na grama ainda molhada. Uma forte brisa levanta os fios de nossos cabelos e ali ficamos, estáticas lendo as palavras de um alguém que não tem nome...

..."É pecado sentir inveja?
É sujo desejar ser tudo o que não se é?
É humilhação implorar por amor?
É egoísmo não querer viver?
Seria melhor recomeçar em outro lugar?
É estranho não ter parâmetro para mais nada?
Não sentir dor?
Não acreditar no impossível?
Excluir e desistir do ser humano?
Não sinto fome. Não ouço barulho algum.
Não vejo bondade. Misericórdia.
A sociedade é infestada de parasitas que precisam mostrar o tempo todo algo.
Algo esse que não existe. Não tem forma. Não tem nome.
O silêncio e o escuro permanecem.
Não há ninguém. Eles não vão chegar.
Acredite, é só você.
Agarre-se no que sobrou de sua dignidade e continue caminhando....
Os pés ainda doem... sangram....
Trazem marcas eternas.
Daria tudo para não tê-las.
Como poderia dar tudo se não tenho nada?
Continuo de pé. Firme. Forte.
Cabeça erguida.
Sou o que sou e o que preciso ser.
Ser eu mesmo basta.
Já é o bastante, já é pesado.
Fardo sem fim.
Aceito. Sem choro nem vela.
Meu caminho não tem volta.
Sigo até onde ELE quiser."

Após a leitura, olhamos uma para outra sem saber ao certo o que dizer. Vamos rasgar? diz Diana. Sim, respondo. Juntas falamos: amanhã é outro dia.