quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O caso do acaso


Diana me entrega uma carta que encontrou ao lado de uma árvore. Propositalmente alguém deixou ali, ela diz. Será anônima? Pergunto eu. Não tem remetente nem destinatário, acho que é um desabafo de uma alma solitária, enfatiza Diana. Às vezes, tudo que alguém precisa é falar. Deve ser triste não ter com quem compartilhar. O que é bom para mim pode ser ruim para o outro. O ser humano não gosta de ser julgado. Mentes inquietas não tem limites, gostam de ser solitárias. Enfim, talvez quem escreveu a carta não pretendia nada específico. Talvez sejam apenas palavras, soltas em uma folha amassada de papel. Diana e eu sentamos na grama ainda molhada. Uma forte brisa levanta os fios de nossos cabelos e ali ficamos, estáticas lendo as palavras de um alguém que não tem nome...

..."É pecado sentir inveja?
É sujo desejar ser tudo o que não se é?
É humilhação implorar por amor?
É egoísmo não querer viver?
Seria melhor recomeçar em outro lugar?
É estranho não ter parâmetro para mais nada?
Não sentir dor?
Não acreditar no impossível?
Excluir e desistir do ser humano?
Não sinto fome. Não ouço barulho algum.
Não vejo bondade. Misericórdia.
A sociedade é infestada de parasitas que precisam mostrar o tempo todo algo.
Algo esse que não existe. Não tem forma. Não tem nome.
O silêncio e o escuro permanecem.
Não há ninguém. Eles não vão chegar.
Acredite, é só você.
Agarre-se no que sobrou de sua dignidade e continue caminhando....
Os pés ainda doem... sangram....
Trazem marcas eternas.
Daria tudo para não tê-las.
Como poderia dar tudo se não tenho nada?
Continuo de pé. Firme. Forte.
Cabeça erguida.
Sou o que sou e o que preciso ser.
Ser eu mesmo basta.
Já é o bastante, já é pesado.
Fardo sem fim.
Aceito. Sem choro nem vela.
Meu caminho não tem volta.
Sigo até onde ELE quiser."

Após a leitura, olhamos uma para outra sem saber ao certo o que dizer. Vamos rasgar? diz Diana. Sim, respondo. Juntas falamos: amanhã é outro dia.

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